domingo, outubro 18, 2009

VII-Terras da Raia do Distrito de Portalegre:"Sociedade e realidades sociais"(2)



Atendendo ao modelo de organização económica social do distrito entre a Regeneração e a I República, observa-se algumas diferenças muito visíveis entre as populações das cidades e vilas da raia de Portalegre. Diferenças essas que se acentuam, em determinadas ocasiões, devido a uma serie de contrastes apreciáveis relativamente ao poder económico e rentabilidade do património correspondente às famílias das classes dominantes, o mesmo já não é tão observável entre as classes populares. No caso, da capital do Distrito, há que fazer referência a um conjunto de famílias pertencentes à nova aristocracia liberal que tendem a se aproximar de outras históricas e de “sangue”. Em Elvas a situação era diferente, uma vez que nas últimas décadas do século XIX encontramos uma serie de titulados com base na compra de títulos e a nobreza tradicional, era exclusivamente representada pela família da Marquesa de Penalva. Mas de acordo com os dados recolhidos na documentação oficial ao nosso alcance, ao largo da segunda metade do séc. XIX e nas três primeiras décadas de Novecentos a classe dominante foi sem dúvida alguma, a integrada pelos proprietários. Formava-se assim um grupo de médios proprietários, exactamente reconhecidos pela documentação pela designação de “proprietários”, tratando-se de um modo geral de uma serie de personagens que haviam construído o seu património com base no exercício de actividades comerciais. Alguns possuíam, inclusivamente, certas terras em propriedade comum ou fragmentadas ou alguns benefícios resultantes da produção manufactureira, no qual se incluíam algumas famílias de origem estrangeira, como eram o caso dos Larcher e Robinson de Portalegre. Outro grupo de proprietários que se integravam entre as elites locais, com influência notável nestas sociedades de fronteira eram os militares e os intelectuais, não só devido à sua formação académica, mas também como resultante de um conjunto de patrimónios igualmente variáveis e que podiam ser agrários, granadeiros ou comerciais. Os primeiros eram sem dúvida, homens unidos por laços familiares ao conjunto de proprietários rurais, muitos dos quais descendentes directamente de algumas personalidades reconhecidas como negociantes ou comerciantes. De realçar que entre os militares nomeadamente de Elvas, havia o hábito de adquirir pequenas herdades de um modo geral na condição de rendeiros. Por outro lado, era nesta cidade que se encontravam alguns oficiais superiores do exército nacional com funções de comando no forte da Graça e Praça Militar, nesta época há que distinguir ainda o tempo dos brigadeiros e o tempo dos coronéis ou seja a época áurea (da monarquia constitucional) e a época de decadência (da I República). Por último, os pequenos proprietários que de um modo particular atingiam um numeroso grupo de proprietários na vila do Marvão como consequência de um espaço agrário deveras limitado e sobretudo com alto índice de partilha Os registos de testamento e de propriedade, demonstram que estes pequenos proprietários, trabalhavam a sua própria propriedade, na maior parte courelas e hortas e algumas parcelas de olival. Entre os pequenos proprietários não situação de riqueza diferenciada eram os titulares de mercearias das vilas e em Elvas ou os vendedores ambulantes (almocreves) que na transição para o século XX estava deveras representada na Vila de Arronches. (continua).