As armas e a fé percorreram os caminhos da reconquista cristã e a cada povoação conquistada e repovoada, correspondia novas almas, cuja aglomeração populacional no espaço, era fundamental para a constituição de novas paróquias ainda mesmo antes da integração definitiva das mesmas nas suas dioceses definitivas. Não é por acaso que a carta episcopal do Bispo da Guarda exortava na longínqua primavera de 1260, a comunidade cristã de Elvas a reconhecerem como seu Bispo, o mais alto dignitário da Sé de Évora. As causas, as dúvidas e as posições da vila de Elvas, relativas à sua integração na diocese de Évora não são conhecidas no actual momento de investigação histórica, mas dois anos depois o Bispo de Évora exercia a sua jurisdição administrativa em terras elvenses quando confirmava a doação da Igreja de Vila Boim a João Aboim, constituindo então a primeira paróquia fora do núcleo de povoamento primitivo uma vez que outra povoação nas mesmas circunstâncias a vila de Barbacena só atingiria tal dignidade uma década mais tarde. Em Elvas, as primeiras paróquias são anteriores a meados do séc. XIII como a de S. Pedro, fundada em 1227 como se comprova na leitura paleográfica do seu portal e por volta de 1267 as paróquias de Santa Maria e de e de Alcáçova, são já referenciadas com locais de culto e de serviço aos fiéis. No caso, da paróquia de Santa Maria da Alcáçova, as dúvidas são inexistentes considerando que o primeiro templo cristão, edificado sobre as ruínas da provável mesquita (?), está datado para os primeiros dias do ano de 1241. A paróquia do Salvador, mais tardia de meados ou inícios do séc. XIII, cuja igreja constituía um Priorado da Casa de Bragança e regista como seu documento mais antigo um foro datado de 12 de Janeiro de 1273. Da época posterior à reconquista da vila de Elvas outros templos integravam a jurisdição da ordenação paroquial, como as Igrejas de São da Corujeira que a tradição refere como o ponto onde se gerou a ofensiva para a reconquista de Elvas e profundamente alterada pelas obras setecentistas, após a perda da sua torre e parte da sua estrutura (alçados) por volta de 1840. A Igreja da Madalena que se perdeu para a eternidade, onde na época Moderna se edificou o Convento das Dominicanas e a Capela de Nossa Senhora dos Bem Casados, datada sem confirmação para a época de D. Afonso IV, não resistiria às prioridades urbanísticas do desenvolvimento imprimido em meados do século XX pelo município. Sendo uma das primeiras referências da devoção popular, cuja confraria foi reconhecida por bula papal de 1348, foi um exemplo típico da expansão nas paróquias primitivas que permitiam a edificação dos espaços religiosos ainda que dependente da sede da Igreja paroquial. Mas o período medieval em Portugal como um pouco por todo Ocidente foi marcado por uma nova vaga de espiritualidade que aproximou de forma particular as populações urbanas e rurais do ardor evangélico que os tempos medievais então determinaram na visão e concepção do homem medieval. Era o tempo das ordens mendicantes que traziam uma nova mensagem de contenção relativamente aos bens e prazeres materiais, em Elvas a Ordem de São Domingos enquadrava-se nesse âmbito e sedeada na paróquia do Salvador foi durante quase toda a medievalidade o maior complexo arquitectónico religioso. A sua aceitação junto da população, manifestava-se no âmbito do desprendimento das “coisas do mundo” numa época em que o espírito cristão era um sentimento permanente gerado no âmbito da “cruzada da reconquista.” A presença dos monges é documentada oficialmente por volta de 1267 quando por cata régia de 20 de Fevereiro lhes foi doada a Ermida de Nossa Senhora dos Mártires e permitida a sua licença para esmolarem em Badajoz numa fase em que o Igreja, Convento e Hospedaria estava em construção iniciada um ano antes com a doação do terreno para o mesmo fim. A realidade assistencial era outra função extensiva aos espaços religiosos considerados, como eram o caso das albergarias e/ou hospícios anexas os templos: dos Mártires, S .Pedro, Madalena, do Salvador ou do Convento de São Domingos, com dupla função de hospício e de albergaria, no acompanhamento e no apoio solidário, na doença e em especial nas épocas de surtos epidémicos ou na guarda e protecção dos viajantes que para a capital e da mesma, atravessavam as terras de fronteira. De um modo geral, na vila de Elvas o clero medieval centrava-se em duas categorias o paroquial ou regular seja predominava o baixo clero, o paroquial ligado ao direito do padroado e o obrigado a diversas contribuições ao bispado, entre elas o sinodático (Pago em sujeição ao seu bispo, e normalmente em cera); a visitação (Pago em géneros, quando o prelado fazia visita canónica) e a lutuosa (Pago por morte dos religiosos segundo os bens do defunto). O que contribuía para a pobreza do clero paroquial que não tendo bens de raiz, o tornava mais próximo, das formas de vida e preocupações materiais dos seus paroquianos. No clero regular, a situação de desafogo económico ou material, dependia da ordem e do mosteiro em que pertenciam, no caso elvense, a opção pela pobreza justifica toda e qualquer referência relativamente ao retiro espiritual dos frades dominicanos. Todavia nos primeiros tempos do “repovoamento e colonização” do espaço territorial da vila de Elvas, não podemos esquecer o papel da Ordem de Alcobaça que então possuía algumas herdades ou mais tarde na época dos trezentos a Ordem de Cristo que também possuía algum património enquanto instituição espiritual da Casa Senhorial do Infante. Mas, se é verdade que a Igreja Medieval em Elvas, rica no património construído e pobre nos protagonistas espirituais, também é certo que as paróquias locais foram enriquecendo com base nas suas receitas próprias, pregações, missas e ofertas, mas sobretudo através dos testamentos em especialmente a partir de fins do séc. XIV, quando a fidalguia local, doava frequentemente, terras (olivais) e casas de moradas que preenchiam o rol dos seus bens materiais , mas também algumas fortunas como as doações em metal precioso que podemos comprovar na doação de Lourenço Annes Mafalgo, (ANTT, Testamento, 20/1337) em que o mesmo lega à Igreja de Santa Maria dos Mártires, “o valor de 100 meravadis para a obra da igreja e 50 para os frades” ou ainda “ as trezentas drobas, três taças de prata e outros bens em material precioso”