segunda-feira, setembro 28, 2009

II-Terras da Raia de Portalegre: síntese histórica da Vila do Marvão



De volta à Raia de Portalegre, iniciamos hoje a síntese histórica dos principais centros transfronteiriços do Distrito. 1.1 - A Vila do Marvão: - se encontra situada na linha de fronteira, a pouco mais de 13 Kms., da antiga alfândega de Galegos, tendo a norte a vila portuguesa de Castelo Vide e a sudoeste a cidade de Portalegre. A vila de Marvão foi edificada numa elevação escarpada durante o período muçulmano, afirmando-se ao largo da sua história como uma fortaleza de guerra. Assim sucedeu, pelo menos desde o século IX, um século durante o qual este núcleo se transformou num espaço essencial como reduto defensivo, sendo utilizado com muita frequência como lugar e refúgio fortificado de Iban Marvuán, de quem a vila deve a sua denominação. A conquista do Marvão aos árabes, ocorreu graças ao avanço da reconquista cristã a sul e, mais concretamente, com a definição da chamada Linha do Tejo em 1147. Assim, pelo menos, desde 1167, que os cavaleiros dos Templários passaram a controlar este espaço, outorgando-se a sua carta foral em 1226 pelo monarca D. Sancho II e integrando o seu termo numa parte significativa no actual Distrito de Portalegre. Este facto demonstra o valor estratégico extraordinário deste núcleo raiano, uma vez que a dita carta foral estabelecia que uma terça parte dos seus cavaleiros devia permanecer de forma permanente na dita vila, não apenas com a missão de assegurar a presença cristã na dita vila mas como forma de mobilizar as forças cristãs para a conquista das terras do sul. Ao largo do período medieval o Marvão se afirmou como um núcleo importante no desenvolvimento económico da região do Alto Alentejo, uma vez que recebia uma parte considerável de produtos por via da vila mais importante do Tejo, Santarém, para distribuição das localidades mais próximas. Durante o século XIV a vila do Marvão foi fortemente abalada pela trágica e violenta, Peste Negra que levou o monarca D. Fernando a criar os chamados “coutos” para “hominizados” , que eram, indivíduos condenados por homicídio a quem a Coroa perdoava certos crimes ou faltas sempre que se fixavam em terras da raia. Se tratava, ao mesmo tempo, de defender o espaço raiano e contribuir para a estabilização da própria monarquia. E por isso podemos comprovar que foi o próprio rei Dom Fernando quem mandou reforçar através de várias obras da defesa do Castelo, pela soma de 3.000 reis brancos (ANTT, Carta Régia de 1443). Mais tarde, graças ao desenvolvimento do comércio externo, sobretudo com o reino de Espanha, a importância da villa do Marvão foi aumentando convertendo-se nos tempos modernos, não só um dos portos secos mais importantes do norte alentejano mas também como uma das praças comerciais mais representativas do Sul de Portugal, com períodos menos bons até meados do séc. XIX. Os séculos XIV e XV foram determinantes para a colonização do território, mas o apogeu demográfico teve lugar, provavelmente, no século XVI, quando entraram milhares de judeus pela fronteira fugindo à violência da Inquisição Espanhola. De todas as formas, a história mais conhecida de Marvão esteve marcada, sobretudo, por uma serie de eventos militares que a população viveu durante os séculos XVII, XVIII e XIX, entre eles destacaram as seguintes: - Guerra da Restauração – Inicialmente um cerco imposto pelas forças militares espanhola em 1641 e pouco depois em 1648, de um ataque lançado também por unidades militares hispânicas sob comando do Marquês de Lagañes; - Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1715). Em 1704 a fortaleza foi tomada por um exército franco – espanhol dirigido pelo Duque de Berwick, ainda que no ano seguinte se restaurou a situação anterior por acção do exército português, comandado pelo Conde de São João. - Guerra Fantástica (1762-1763) – Ocorreu quando as forças espanholas fazendo uso de surpresa, tentaram uma vez mais tomar aquela praça de guerra sem êxito. – Guerra das Laranjas (1801). A praça seria uma vez mais atacada pelo exercito espanhol, sob direcção do Tenente Coronel D.Ramón Orrel. Mas, uma vez mais, as forças cercadas lograram em resistir com êxito ao assédio espanhol sob comando do Sargento Mor, João Miguel Silva, que tinha sido o responsável pela direcção das obras de fortificação de obras.- Guerras Peninsulares (1807-1811). Destacaram-se, as forças luso-espanholas quando através de um assalto, foram expulsas as forças francesas de ocupação durante a primeira invasão dirigida ao território português. Este assalto foi dirigido pelo Tenente Coronel espanhol D.Vicente Pérez e pelo Tenente Coronel luso, D. Pedro de Magalhães, um militar português que na sua retaguarda contava com o apoio de um corpo de voluntários formado em Valência de Alcântara. – Guerras Liberais (1832-1834. No início dos anos trinta de oitocentos, a vila do Marvão afirmou-se como um reduto defensivo liderado pelas tropas favoráveis ao absolutismo lideradas por D. Miguel, que apoiou alguns movimentos realizados pelos partidários do Infante D. Carlos Maria Isidro na Primeira Guerra Carlista ou Guerra dos Sete Anos. Em 12 de Dezembro de 1838 a praça seria tomada pelas forças liberais com ajuda, uma vez mais, das tropas espanholas. Poucos meses depois, na Primavera do ano seguinte, sofreu uma nova ofensiva das tropas absolutistas que, sem acabou por ser um insucesso por via dos territórios chegados por via espanhola. Em suma, a história da vila de Marvão esteve condicionada em toda a sua história pela sua situação geográfica e pela sua praça de guerra, protagonista de modo permanente desde as guerras da restauração até as guerras liberais na primeira metade de Oitocentos.