História Local: Foi até a construção do Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, edificado em finais do séc. XVIII, o maior aqueduto português e o mais notável da sua época considerando outros obras públicas da mesma tipologia edificadas em Coimbra, Tomar e Vila do Conde. A razão da sua edificação, tem sido justificada pelo facto de em finais do séc. XV, o chamado “Poço do Alcalá” provavelmente do período islâmico não se encontrar em condições de servir a população da então Vila de Elvas. Todavia esta questão merece um reparo, primeiro o dito poço continuou em funcionamento durante pelo menos mais um século, em segundo os representantes às Cortes de Évora de 1498, os elvenses Álvaro Pegado e João Rodrigues d’Abreu, nas suas petições propuseram a reparação do dito poço, o que foi atendido pelo rei de D. Manuel I, que concedeu à câmara de Elvas, o direito da cobrança de lançar o chamado real de água. Que segundo a documentação, seria para as ditas reparações e não para as obras do aqueduto, como mais tarde se viria a verificar. Um outro documento, do A.M.E. refere que durante mais alguns anos se investiu nas referidas obras do Alcalá, sendo assim jamais a mais importante obra pública quinhentista portuguesa se iniciou em 1498 como se encontra registada numa vasta bibliografia sobre esta obra. De resto, este problema foi levantado no século XIX pelo escrivão da Câmara João Viegas, sobre a data do início da construção que não foi a de 1498. Outra questão que vale a pena questionar é sobre o nome do arquitecto que travou o risco do aqueduto, que também não sabemos quem foi com rigor documental que a história como ciência social exige, com tudo e como sabemos esta obra é atribuída ao mestre régio Francisco de Arruda, mas o primeiro documento que se refere à presença deste mestre em Elvas é datado de 27 de Julho de 1537, no qual el-rei D. João III manda à cidade de Elvas, Francisco de Arruda para verificar a maneira como se poderá fazer a obra. Considerando esta afirmação, podemos até responder à primeira questão as obras da “Amoreira” iniciaram-se pelo menos trinta e nove anos mais tarde que a data que lhe é tradicionalmente atribuída. E neste contexto, Francisco de Arruda foi de facto o projectista do aqueduto, da mesma época um documento do A.N.T.T., transcreve de forma clara e inquestionável, que a primeira campanha construtiva do aqueduto de Elvas, foi dirigida pelo arquitecto militar da fortaleza do Restelo. Ora, a fortaleza do Restelo não é mais nada menos que a Torre de Belém e o seu projectista foi Francisco de Arruda.
Assim e nesta perspectiva, o que se destaca é sem dúvida o papel da Coroa em dotar a nobre vila de Elvas, que apresentava então um crescimento demográfico notável de um equipamento que então era específico das cidades do reino ou seja a possibilidade de elevar a nobre vila de Elvas a cidade, era clara até pelo facto de nesse período outras obras utilitárias então se desenvolviam como a construção da futura Sé, a nova Casa da Câmara ou a nova praça, que foi projectada de forma circular e assim se manteve até aos inícios da época contemporânea.
Outras curiosidades alimentam a construção do Aqueduto, como a possibilidade da sua destruição durante a Guerra da Restauração para a construção de uma ampla baluarte onde hoje se situa o redente do Cascalho ou a proposta quase anedótica de D.João V que face às despesas com as obras e manutenção do Aqueduto, propunha a chegada de água à cidade através de um amplo repuxo, que foi contestado pela Câmara de Elvas, que em carta de 6 de Junho de 1709, justifica a importância e necessidade desta obra. As fases de construção, as dificuldades de elevação da última arcada que durou mais de uma dezena de anos, a falta de meios económicos para construção e manutenção do aqueduto ou os roubos constantes de água dos canos do aqueduto, são outras histórias que a história do aqueduto devia contemplar. Postado Por Arlindo Sena